O mundo quer nos vestir

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As nuvens refletem-nos a imagem de como é o céu. Tem transmissões tão reais mas que passam despercebidas, tem uma mensagem a passar, mas quase ninguém quer ouvir. Falam aos gritos, ninguém ouve, estão todos preocupados com a vida que o mundo oferece, deixaram a vida que a própria vida quer nos dar. Ahh como isso é amargo, soa como garganta seca no meio do deserto, ou pior. 

É como um piscar de olhos a velocidade com que as coisas acontecem e passam antes que vivamos nossos dias, é, tudo vem e passa num verdadeiro piscar de olhos.
O mundo quer nos vestir, e ele insiste em fazer isso, porque diferente de nós ele segue o seu propósito, não parou em momento algum pra se atrapalhar com coisa alguma. 

Estamos dentro de uma bola que gira, é tal e qual como uma casa, no melhor quarto estão em cima da cama a humildade, compaixão, amor ao próximo, amor próprio e simplicidade. Mas a porta desse quarto foi trancada a sete chaves que foram lançadas a algum lugar distante, mas alcançável. A porta desse quarto ninguém quer abrir, nem por vontade, talvez por insistência. Ainda que tenhamos gozado todos os compartimentos dessa casa, voamos como moscas sem destino, e preferimos sempre voltar ao mesmo lugar. Mas e aquela porta, ninguém abre.

Perdemos quase tudo antes mesmo de ter, porque antes que a mão se fechasse já queríamos abrir pra colocar mais conteúdo, ah a vida de quantidades. Actos que confirmam a cada sempre, que a maioria de nós é colecionador de quantidades, conteúdos vazios e sem utilidade, haverá alguém que diga que tenham, mas eu diria que trata-se de utilidade sem necessidade, sem uso, sem valor, sem nada. Literalmente pessoas cheias de vazio, que se vangloriam por possuir nada.

A grande maioria prefere as roupas que estão nos outros quartos, roupas que quanto mais vestimos mais nos despem. Orgulho, egoísmo, tantas outras coisas que colocam não só o corpo exposto, mas a alma toda. 
Nossas ambições correm ao mesmo curso que todos os rios, e tem um destino igual pra todos, mas com diferentes níveis e fases. Voou de nós a única parte que devia permanecer, que devia enfrentar o mundo e dizer “chega”, voa, voa, voa e nem a chuva a trava, nem a chuva dá um basta a nudez que queremos vestir, nem a chuva, nem nós mesmos. 

Somos um autêntico projecto previsível, com gestão precária, quando insistimos em frequentar os outros quartos da vida, os quartos errados. 
Voamos muito em cima, pra dar mais drama e impacto a nossa queda. E os olhos, sempre fechados nem pra enxergar o que o inclinar das árvores quer nos indicar. E ainda que elas nos digam em voz alta, ainda que façam gestos, é pra o lado que elas voam que também vamos voar, mostrando ao vento que voamos à vontade dele, mostrando que a decisão sobre o nosso caminho nunca esteve nas nossas mãos. E então o mundo nos veste, e traz tudo o que ele tem pra nós, e nós? Nós fazemos a vontade dele.

                                                                              Por : Denise Magaia




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