O depois que nunca chega

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Existe um futuro já criado pra acontecimentos desacontecidos. 
Existe uma esperança que paira sob um amanhã que não chega. 
Um futuro incerto certo. Se calhar até mais certo que incerto. 
São tantas fantasias criadas em cabeças,  cabeças que sabem os contornos de um plano sem fundo,  mas que mesmo assim insistem em planejar. 

Cabeças cheias, cheias de vontade, cheias de vontade de amanhã, mas que na verdade sabem que só tem forças pra hoje.
Nao existem fronteiras pra tais "vão aconteceres", é como loiça empilhada, sempre cabe mais um. 
Mas o medo assola, porque na verdade ali onde cabe mais um, tal um pode desabar com tudo. Mas é daquelas conquistas que é melhor pagar pra ver. Se der errado oppa, mas se não, créditos são bem vindos. 
E eu sou uma delas na busca por saber o porque das voltas.
O porque de rodar quarteirões quando a casa que queremos é a mesma e é a amarela entre as brancas. 
Amarela porque é notável, amarela por ser forte, tóxica mas quente, amarela por ser picante, penetrante. Mas a porta desse calor, nenhum de nós quer ser o primeiro a abrir. 
Não por pura covardia, só pelas consequências. Por saber que quem abriu a porta, é quem suportará tudo que virá depois.  Uma bela duma carga. 
Uma carga que entendemos ser boa, boa mas um tanto perversa. E essa perversão não se encontra do princípio ao final. Ela habita somente nos contornos. Nos contornos tipo algo que vai.
Mas não se tem a certeza se volta pelo  mesmo caminho.  É louco né? 
E não dá pra parar? Dá. Dá até pra procurar qualquer ocupação útil. Mas quem vai parar primeiro? 
Com certeza o mais forte. E quem será? 
Essa é então a pergunta que não quer calar. 

Poderá alguém que não seja nenhum de nós chegar e nos mostrar que amanhãs são alcançáveis? Que amanhãs são dias chegaveis, que amanhãs são possíveis sem pessimismo? 
Talvez sim. Porque ninguém além de nós, coloca tanto envolvimento naquele dia que ainda não chegou. Ninguém além de nós tem pretensões tão intensas mas incertas. É como eu disse. Ninguém quer abrir essa porta. Estranho né? 
Porque quando olhamos aos olhos paira uma certeza devastadora sobre tantas e outras coisas. 
E então colocamos as lentes, e por cima o óculos, e eu depois invento um véu. Não cerimonioso, somente um simples véu, que ilustra o que ilustram todos os outros véus : ingenuidade, pureza, véu que só abre quem te mostrará como funciona tudo na prática. É assim como eu falo de mim. 
E so falo de mim, porque é somente o que posso. E, não podendo falar mais deixo tudo numa dúvida. 
Como se eu também não soubesse onde tudo e isso vai chegar. 
E também pelo medo. Porque meu medo pega mas não toca. Meu medo tem medo de envolvimento. Meu medo tem medo de despertar sonos. 
E então agora tá tudo explicado. Esse amanhã só não chega, porque meu medo tem medo dele chegar.

                                                                                                            Por Denise Magaia 

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