31 de Dezembro de 2014, era véspera de ano
novo e tudo que mais desejava era passar a virada de ano ao pé do Carlos, com
quem namorava há sensivelmente 7 meses.
''Tia eu te imploro, me deixa
ir, prometo que até as 6h eu estou de volta e pai não vai ficar a saber, eu
juro tia!"- lá estava eu a implorar a tia Judith que deixasse que eu fosse
passar a virada com o Carlos, pois para o meu pai eu passaria junto a tia Judith
e a avó Clara.
" Não Marta eu não quero
arranjar desavenças com o teu pai, tu sabes como ele é e tudo que não quero e
que ele venha fazer barulho pra mim, eu não aguento minha tensão não me permite
isso."
Após uns bons 45 minutos de insistência
ela deixou, sob condição eu ter de deixar 2 litros de Coca-Cola tal como ela e
a avo gostavam.
Toda empolgada corri pra mandar uma
mensagem ao Carlos e avisar que tinha conseguido que a tia deixasse que eu
fosse passar la a virada.
Nunca me tinha preparado com tanta vontade
e ansiedade para poder ir passar a virada de ano co algum namorado, pois afinal
de contas era o meu primeiro namorado que me tinha apresentado sua famÃlia e eu
julgava que se tratava de algo muito sério, sem saber que aquela data, tornar-se-ia
no pior dia da minha vida, que passaria por piores minutos da minha vida, e que
de amor da minha vida, o Carlos se tornaria no meu pior pesadelo.
Lá cheguei e fomos direto curtir a festa,
comida, bebida e muita conversa marcou o final de mais 365 dias da minha vida e
julgava eu ter tido uma ano e tanto.
Meia-noite, fogos-de-artifÃcio, abraços,
beijos, promessas e juras, foi assim como demos aquele primeiro speech do ano.
ʺFeliz ano novo Amorʺ disse Carlos olhando
fundo nos meus olhos, o que fez acreditar num conto de fadas instantaneamente,
foi bonito, não nego, foi muito lindo e fiquei muito encantada com o que
acabara de acontecer.
A noite continuava e o Carlos bebia cada
vez mais as cervejas. Passadas 2h da meia-noite, Carlos fala no meu ouvido e
pede que entrássemos na casa pois ele queria falar comigo, eu, como estava num
papo interessante com as suas primas pedi que ele esperasse mais um pouco que
logo iriamos, mas ele não quis esperar e meio que empurrou-me pra dentro de
casa, pedi-lhe que parasse com aquilo pois estava a ser rude, fui ignorada, e o
mesmo continuava a empurrar-me para dentro de casa em direção ao quarto onde
entramos e ele fechou logo a porta com muita força. Pedi que ele explicasse o
que estava a acontecer, se tinha feito algo que não tivesse gostado ou mesmo
tivesse me comportado mal. Carlos deu-me um beijo, daqueles beijos de tirar o
fôlego, e de seguida olhou em meus olhos e pediu que fizéssemos amor naquele
instante, eu ainda era virgem!
Disse que não me sentia preparada, o que
fez que ele enervasse-se e começasse a gritar:
- ʺESTOU CANSADO DE ESPERAR MARTA, TENS ME
DADO MUITAS VOLTAS, EU SOU HOMEM E TENHO AS MINHAS NECESSIDADES, DE HOJE NÃO PASSA,
FAREMOS AMOR SIM, SEJA POR BEM OU POR MAL!ʺ
Aquilo assustou-me e cheguei a querer
acreditar que era devido ao álcool que ele vinha consumindo, mas apercebi-me
que não quando ele jogou-me conta a cama, virou-se para a porta e trancou-a,
nesse momento, o meu pior pesadelo teria o seu inicio.
Carlos veio pra cima de mim com muita
força e insistia em beijar-me, ele por ter uma massa fÃsica um pouco mais
avantajada conseguia colocar-me imóvel pelo simples facto do mesmo deitar-se
por cima de mim, e foi justamente isso que acontecera naquele momento, Carlos tirou
a sua roupa e jogou-se pra cima de mim prendendo os meus braços evitando todo
tipo de movimento vindo da minha parte.
ʺPARA COM ISSO CARLOS!ʺ
ʺCARLOS PARA!ʺ
ʺPARA!ʺ
Nunca achei que essas palavras sairiam da
minha boca numa situação dessas.
Ao ver que eu gritava demais e que poderia
despertar a atenção de todos que la fora estavam Carlos levantou, deu uma vista
de olhos ao redor e conseguiu mirar um lençol já um pouco gasto e puxou o mesmo
com uma de suas pernas e com o pé e uma mão conseguiu rasgar o lençol em dois pedaços
e amarrou-me nos apoios da cama, naquele dia eu trazia um vestido, o que
facilitou demasiado o seu trabalho.
A brincadeira deixava de ser brincadeira e
tornava-se em algo sério.
Na minha cabeça a minha perda de virgindade
não seria algo dos filmes com uma cama toda decorada com pétalas de rosas, mas também
não era o que estava a acontecer naquele momento.
Foi horrÃvel, e por mais que eu chorasse, Carlos
parecia que nada escutava e nem sentia, em um impasse, Carlos tornou-se num
completo estranho pra mim, não parecia o mesmo que em 2h abraçava-me e
enchia-me de beijos apaixonados. Eu tinha perdido a minha virgindade e a minha
sanidade mental.
ʺAcho melhor nos vestirmos rápido e irmos
antes que notem a nossa falta e venham nos procurar, não quero ouvir barulho da
minha mãe, sabes como ela consegue ser chata, anda amor vamos.ʺ, mal podia
acreditar que ele conseguiria fingir tanta demência sob tudo que tinha acabado
de acontecer, eu não reconhecia mais o meu namorado, não reconhecia por
completo.
Naquele momento, tudo que queria era poder
voltar no tempo e pedir a minha tia que por nada me deixasse ir para aquela
casa e naquele dia.
Nada mais fazia sentido pra mim, e
infelizmente não tinha como voltar para casa naquele momento pois por mais que
eu quisesse não teria como ir pois já passavam das 2 horas da madrugada e
dificilmente encontraria um táxi para voltar pra casa, tive de fingir que nada
tinha acontecido e seguir a noite com muita normalidade. Consegui descobrir
mais um dom em mim, eu sabia fingir perfeitamente, feito uma boa atriz de
novela.
Os dias passaram e eu não conseguia mais
lidar com a situação, a ninguém contei o que tinha acontecido, ate que a
Cristina, minha melhor amiga, notou que algo em mim estava errado, e insistiu
que eu falasse.
Tive de ter acompanhamento psicológico sem
o conhecimento dos meus pais e foi uma luta enorme que eu travei comigo mesma
dia e noite. Ate hoje que vos escrevo, acreditem, ainda tenho pesadelos com
aquela noite, ainda evito muito vestidos e tenho um medo enorme de andar
sozinha em altas horas da noite.
Se vi o Carlos depois disso tudo? Sim, e
com muita frequência pois ate hoje tenho o número dele gravado e vejo sempre os
estados dele, mas não porque ainda sinto algo, mas sim para lembrar todos os
dias que algo devo fazer para que milhares de meninas como eu que sofreram
abuso não sofram mais.
Foi triste, mas hoje eu posso dizer que
consegui superar, não por completo, mas eu superei e podem crer, foi o pior
episodio da minha vida, mas hoje sei que as pessoas não são de confiança e que
por mais carinhosa e amorosa ela aparente ser, tu nunca saberás mais do que ela
lhe deixe perceber ou mesmo ver.
Be careful,
With love,
Marta!